História e Origem do Hatha Yoga
O Hatha Yoga está estreitamente relacionado com o tradição tântrica, seu impulso foi dado por meio dos fundadores do movimento Natha: Matsyendranatha e Gorakshanatha por volta da última metade do primeiro milênio d.C. O termo Natha significa “senhor” ou “mestre” referindo-se ao yogui que goza de libertação (mukti) e de poderes paranormais.
A Goraksha foi atribuída a autoria de importantes tratados do Hatha Yoga, ponto de partida para essa tradição. Escreveu algumas obras em sânscrito, o Hatha Yoga, Goraksha Samhitá, Siddha Siddahanta Paddhati (Tratado em sânscrito que faz uma exposição sistemática e abreviada dos conceitos metafísicos e do modo de pensar dos siddhas yoguins e da busca pela realização nesta vida por meio da prática do yoga. Goraksha também fundou numerosos monastérios em todo o subcontinente indiano. Foi um grande yoguin (mahayogin), ensinou o que poderia ser chamado de um sistema filosófico para orientar os buscadores da verdade no caminho da autodisciplina intelectual.
A lista de gurus e seus discípulos (paramparas) em tradições indica que Goraksha aprendeu de Mastsyendranath, que por sua vez o fez de Adinatha ou Shiva. Em outros textos encontra-se Matsyendra como o mestre em cujos pés Goraksha passou 12 anos, surgindo depois como o grande místico e yoguin.
Os nathas não se preocupam muito com a explicação clara da teoria filosófica, mas prestam muita atenção à disciplina espiritual e à prática do Yoga. O êxito no Yoga demanda força de vontade, continência e abstração das distrações do mundo externo.
Os textos que se basearam nas obras de Gorakshanatha pode-se citar Shiva Samhita, Gheranda Samhita, Hatha Yoga Pradikipa.
Objetivo do Hatha Yoga
O objetivo último do Hatha Yoga é a realização de Deus, a iluminação, aqui e agora, num corpo divinizado ou imortal. Essa realidade é expressa com o símbolo do estado de equilíbrio ou harmonia no corpo, onde a energia vital, normalmente difusa, estabiliza-se.
A força vital (prana) polariza-se ao longo do eixo da coluna. Afirma-se que o pólo dinâmico (representado por Shakti) fica na base da coluna e o pólo estático (representado por Shiva) , o topo da cabeça. A obra do hatha-yoguin consiste em unir Shakti e Shiva. Para que aconteça esse casamento, é preciso antes estabilizar a corrente alternada de força vital que anima o corpo. Esse fluxo dinâmico (chamado de hamsa) tem um pólo positivo e um negativo; sobe e desce pelo lado esquerdo e direito do corpo 21.600 vezes/dia. A corrente positiva tem o efeito de esquentar , e a negativa o de esfriar. No nível material, elas correspondem respectivamente aos sistemas nervosos simpático e parassimpático.
Segundo o modelo tântrico do corpo humano, o canal axial (sushuma) é circundado pelos nadis (canais sutis) Ida e Pingala, de forma helicoidal. Ida é o condutor do fluxo da força lunar, à esquerda do eixo do corpo, e Pingala é o condutor ou fluxo da força solar, à direita. A sílaba HA de Hatha também representa a força solar do corpo e a sílaba THA representa a força lunar. A palavra YOGA significa a conjunção dessas duas forças.
O objetivo primeiro do hatha-yoguin é o de interceptar as correntes da esquerda e da direita e concentrar a energia bipolar no canal central, que começa no chakra raiz (Muladhara chakra), na base da coluna, onde se diz que a Kundalini permanece adormecida. Esse esforço perseverante de redirecionar a força vital tem efeito sobre a kundalini, que fica então mobilizada. Por isso outro sentido da palavra Hatha é força. O Hatha Yoga é uma obra de força na qual a força vital intrínseca ao corpo é usada para a transcendência do ego.
Os nadis esquerdo e direto representam os princípios de dualidade. O hatha-yoguin os controla e os une ao nadi central. O nadi central (sushuma) conduz o yoguin à verdade e ao som místico e espontâneo (anahata nada) que é ouvido dentro dos espaços recônditos da alma.
A relação entre Hatha Yoga, Laya Yoga e Raja Yoga
Hoje em dia é comum considerar-se que o Hatha Yoga possui somente práticas corporais e que o Raja Yoga se diferencia deste por compreender práticas nas quais o corpo quase não é envolvido. No entanto, nos dois primeiros versos do Hatha YogaPradipika, menciona-se explicitamente, que o Hatha Yoga foi proposto para obter o Raja Yoga. O Hatha Yoga não pode ser compreendido sem o Raja Yoga, nem este sem o Hatha Yoga. Quando o termo Raja Yoga aparece nos textos de Hatha Yoga não é usado para indicar um sistema separado de Yoga; é uma referência ao estado mais elevado de meditação que se consegue por meio do Yoga e que se denomina samadhi.
O quarto capítulo do Hatha Yoga Pradipika contém os ensinamentos sobre a fusão de prana com a mente, processo denominado de Laya, que é o estado no qual não há dualidade nem percepção de objetos; a expiração e a inspiração ficam suspensas, cessam os processos de pensamento e atividades. Essa experiência é indescritível. Svatmarama oferece alguns vislumbres maravilhosos: “A mente se funde completamente, unificando-se com o Supremo, assim com a cânfora queima-se no fogo, o sal dissolve-se na água, a mente dissolve-se no despertado internamente”.
As práticas do Hatha Yoga e do Laya Yoga têm como objetivo alcançar o Raja Yoga (estado de gozo indescritível). O Laya Yoga é um dos quatro grandes sistemas do Yoga, uma das quatro formas do Yoga original denominado Maha Yoga.
Fundamentos Sutis do Hatha Yoga
Nadis, Prana, Chakras, Kundali. Esses tópicos serão abordados em outros posts.
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